Libertar-me
São 03h26. Estou deitada, na escuridão do meu quarto e embalada pelo sono profundo dos meus companheiros de vida: o marido e o cão. Num impulso provocado pelas insónias, decidi dar voz e vida a um "a fazer" que estava comodamente arrumado na gaveta há alguns pares de anos.
Apesar da certeza de que escrever me tranquiliza, me transporta e me ajuda a organizar pensamentos, hoje, com 30 anos, sinto-me presa, a asfixiar. Eu própria me impedi, me auto limitei. Impus-me a não escrever, a não "me" descrever, nem privada, nem publicamente. Por várias razões: o medo (esse tão perigoso aniquilador) do escrutínio alheio; a convicção (que vai sempre existir) de que despejar os meus pensamentos na internet não é um ato seguro (nem propriamente impactante para a história da humanidade) e o receio de ser julgada pelos meus pares, os do coração e os da profissão.
Acontece que hoje, potenciado pela madrugada, o entusiasmo de escrever (de forma solta, descomplexada, não jurídica, descontraída, com amor e para congregar), está a gritar-me aos ouvidos. Sinto que não devo calar mais esta necessidade de me exprimir, esta curiosidade de partilha, de me expor aos outros, de (v)os sentir.
"Se, para ti, escrever é um ato terapêutico e libertador", dizia-me o meu coach, há um ano atrás, quando estava mergulhada numa maré de ansiedade, "devias escrever mais, soltar-te." E é isso, hoje decidi calar os medos, assumir o que gosto, relativizar os julgamentos alheios (e, mais ainda, os próprios) e libertar-me...
A vida é demasiado bela para nos levarmos sempre tão a sério e vivermos condicionados. Que impere a coragem, mascarada pelo impulso da madrugada, de não nos reduzirmos a uma só realidade e de explorarmos as nossas várias e maravilhosas camadas.
Esta é a botica, onde se tentará falar com intensidade, respeito e emoção.